“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem, mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis.” (O Livro dos Espíritos, questão 1010)

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A GUARDA DO SÁBADO NO ESPIRITISMO



       Praticamente todas as vertentes do Cristianismo tradicional guardam um dia específico como sagrado, sendo dedicado exclusivamente ao descanso e aos trabalhos religiosos. O Catolicismo e o Protestantismo reservam o domingo e outras denominações preferem o sábado.
 
     Esse dia obrigatório para descanso e oração dentro do Cristianismo tem a sua origem no Shabat hebraico que ainda hoje é praticado pelos Judeus, começando a partir do pôr-do-Sol da sexta feira até o pôr-do-Sol do sábado. Entretanto, o Shabat não significa apenas um período de descanso comum é um período exclusivo de adoração e comunhão com Deus em que são suspensas todas as atividades cotidianas, já que essa palavra tem relação com o verbo hebraico Shavat que significa “cessar”, “parar”. [1]
          O Catolicismo não adotou o Shabat, pois entendeu que a observação do sábado era uma determinação exclusiva para o povo Judeu (Êxodo 31:16) e optou por estabelecer o dia de domingo como o dia do Senhor na nova aliança, pois é o dia que consideram como sendo o da ressurreição de Jesus. A reforma protestante continuou a adotar o domingo como dia sagrado. Posteriormente, movimentos religiosos surgidos depois da reforma adotam uma postura restauracionista, quer dizer, acreditam estarem vivenciando plenamente a Lei divina restaurando a guarda do Shabat no Cristianismo.
          O Espiritismo, apesar de ser tambem uma ramificação Cristã não observa nenhum dia de descanso e oração em especial. Todavia, respeita o posicionamento e a liberdade de crença das demais religiões Cristãs. Entretanto, como os nossos irmãos Sabatistas [2] acreditam que guardar o sábado é essencial para a salvação, pois faz parte das ordenanças dos dez mandamentos, questionam os espíritas com relação ao Shabat já que Allan Kardec adotou os Dez Mandamentos como Lei divina e por isso mesmo invariável.
          Kardec no primeiro capítulo de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” afirma que a Lei mosaica é constituída de duas partes distintas: “A Lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a Lei civil, ou disciplinar, estabelecida por Moisés”. A Lei de Deus são os Dez mandamentos que têm caráter divino enquanto a outra foi estabelecida para regular e disciplinar a vida em sociedade e, para ser realmente obedecida pelo povo, foi-lhe atribuída uma origem divina pelos seus legisladores, pois hoje se sabe que Moisés não foi o autor de todo o Pentateuco.
          Então argumentam os Sabatistas: se os Dez mandamentos são de origem divina e a observação do sábado faz parte deles, por que os espíritas não guardam o sábado? Não seria isso uma contradição?
          Existem na Bíblia duas justificativas principais para o descanso sabático: A primeira faz remontar ao descanso de Deus ao concluir a sua criação.  (Êxodo 20:8-11; Deuteronômio 5:12); a segunda justificativa coloca o descansar no sétimo dia como um momento para o homem e os animais repousarem o corpo, aliviarem-se das fadigas da semana. (Deuteronômio 5:14-15), até mesmo a terra era deixada para descanso ao sétimo ano, afim de recompor os elementos perdidos pelos seis anos de semeadura (Êxodo 23:10-11).
          Qual dos dois itens realmente faz parte da ordem natural das coisas: o descanso de Deus ou dos homens? É óbvio que Deus não descansou e muito menos cessou de trabalhar como sugere a descrição mitológica do Gênesis.
          A ciência já estimou, até o momento, através da análise de rochas muito antigas que a idade do nosso planeta é de aproximadamente 4,54 bilhões de anos, muito distante dos sete dias da Gênese mosaica e dos seis mil anos dos religiosos tradicionais que se recusam a aceitar as evidências. Ao passo que, não somente o homem, mas, todos os seres vivos têm uma necessidade natural de repouso.
          Os Espíritos do Senhor [3], inspirando a inclusão na Torá [4], do descanso sabático, quiseram impor um limite aos excessos dos homens rudes daquela época, que impunham um trabalho incessante aos seus subordinados sem se importarem com as consequências que o trabalho além do suportável pode acarretar. Isso fazia com que os Hebreus ficassem pelo menos um dia longe do labor, proporcionando aos filhos, escravos e animais uma folga merecida que, se não estivesse sob a capa de um descanso divino provavelmente não seria acatado. O conhecimento dos judeus sobre o mundo era absolutamente acanhado, estavam envolvidos por uma mitologia adaptada das crenças dos povos mesopotâmicos, que muito antes dos hebreus já dividam a semana em sete dias.
          Outro benefício proporcionado pelo Shabat era o de reunir os homens em torno da adoração monoteísta semanalmente, dificultando a influência dos cultos pagãos sobre o povo [5], visto que na história dos hebreus o afastamento da crença em Deus era muito frequente. Porém, com o tempo, os escribas e doutores Judeus levaram essa observância ao extremo, colocando fardos excessivamente pesados nos ombros do povo.
          Por isso, Jesus quando interrogado pelos fariseus (Marcos 2: 27-28, 3:1-6) respondeu: “O sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado. O Filho do Homem é Senhor também do sábado.” Ou seja, a instituição do Shabat foi introduzida na Lei para atender as necessidades humanas segundo a lei natural do repouso, sendo algo secundário em relação a vida humana. O objetivo era proporcionar ao homem o refazimento das suas forças físicas e morais, por esse motivo, em outro momento o Mestre ensinou que no “amor a Deus e ao próximo” já estava contida toda a Lei.
           Para a Doutrina Espírita, todos os dias são do Senhor. Deixando a cada pessoa a escolha do dia ou do horário que lhe for mais adequado para a adoração ao Criador e ao repouso dos afazeres cotidianos [6]. Esse posicionamento não contradiz o preceito do sábado contido nos dez mandamentos, pois o descanso (seja em que dia for) é uma lei natural para os seres vivos e consequentemente, Divina.



Jefferson Moura de Lemos
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[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Shabat.
[2] Todas as denominações cristãs que guardam o sábado.
[3] Ver nosso artigo: Abraão e os Espíritos do Senhor.
[4] Nome hebraico do Pentateuco.
[5] Levítico 23:3; 26:1-3; Números 28:9.
[6] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos perguntas 653 – 656 e 682 – 685.

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