A mensagem de Jesus no evangelho é a do amor incondicional. Todos os
atos de Jesus foram para exemplificar o amor absoluto, irrestrito. O Mestre de
Nazaré ao encarnar nivelou-se fisicamente ao homem para tornar-se o modelo, o
padrão a ser seguido pela humanidade (Joao 15:12).
Entretanto, Ele veio desempenhar a sua missão entre um povo que não era
muito diferente dos outros povos do planeta, tanto no sentido da índole quanto
no apego a um sistema mitológico, como é o caso da descrição feita pelo Gênesis
sobre o surgimento do gênero humano. O Único diferencial dos Judeus era a sua
crença monoteísta.
Apesar da mitologia bíblica não refletir a realidade, por se tratar de
uma adaptação de tradições mesopotâmicas muito mais antigas, ela era uma
explicação compatível com a mentalidade das pessoas daquele período. O sistema sacrificial era algo
enraizado em todas as sociedades e em todos os continentes [1], e embora
sabendo que a narrativa contida na Gênese de Moisés não exprimia a verdade, Jesus
não poderia contrapor-se sem colocar em risco o ensino transformador da
renovação intima que requer apenas o sacrifício das mazelas interiores e não de
atos externos.
Assim sendo, os contemporâneos de Jesus não podendo compreender novidades
científicas que somente com a tecnologia e a metodologia atual conseguimos
vislumbrar, a salvação trazida pela boa nova, naquele momento histórico, deveria
ser ajustada segundo as crenças de então, pois de outra forma a mensagem não
encontraria eco nos corações e nas mentes. Por isso, Jesus teve que adequar a
sua fala e os seus atos se limitando a seguir a tradição e foi justamente
baseando-se no personagem mítico de Adão e da sua queda que se desenrolaria a
trajetória do salvador, isto é, daquele que se doaria como um cordeiro, de
acordo com o rito de sacrifício judaico, para apagar os pecados da humanidade
que eram o reflexo e a consequência do pecado original [2].
Essa era a teologia de salvação dos apóstolos e também a das igrejas
cristãs tradicionais de hoje. Durante séculos a Boa nova seria interpretada exclusivamente
em torno da graça e da fé em um sacrifício, enquanto a reforma íntima e a
caridade exemplificada por Jesus ficariam em segundo plano pelas denominações
que se formaram em redor do Evangelho, pois a fé exclusiva no Seu sacrifício
seria suficiente. Apenas alguns abnegados personagens deixaram-se envolver
pelos verdadeiros ensinos do Cristo e transformaram-se em seus representantes
nas obras do bem. Enquanto os outros esqueceram que aquilo que diferencia os
bodes das ovelhas segundo o próprio Jesus é a caridade (Mateus 25:31-46) e que
não importa o seguimento religioso mas, o bem que se faz (Lucas 10:30-37).
Por isso, fez-se necessário uma atualização doutrinária, tanto para
descartar o sistema mitológico, que serviu ao propósito dos primeiros tempos
quanto para relembrar a caridade que já andava esquecida e revelar informações
que não poderiam ser assimiladas sem que antes surgissem determinados conceitos
científicos. (João 16:12-13).
O Espiritismo sendo uma doutrina evolucionista (aceitando a evolução
biológica segundo as descobertas da ciência) não ensina a queda do primeiro
casal, consequentemente as imperfeições e o sofrimento humano não são o
resultado do pecado original, mas, decorrem da ignorância (Ver o “Livro dos
Espíritos” questão 115).
A evolução é o aprendizado proporcionado pelas várias existências, sendo
a purificação, uma obra íntima do livre arbítrio de cada um. Por Deus permitir
que o homem, como ser espiritual, evolua por meio do acerto e do erro,
adquirindo experiência própria Ele como criador e mantenedor da sua criação não
está fora do processo como muitos cristãos tradicionais acreditam que o
espiritismo ensina: “uma auto-salvação” sem Deus ou Jesus.
Logicamente que a salvação espírita
não está mais baseada no sacrifício ritual de um cordeiro imolado, para reparar
o erro de um personagem mitológico, a salvação na Doutrina Espírita é o
resultado do caminho trilhado por aquele que aceita seguir a senda do bem
exemplificado por Jesus e pelos apóstolos ou algum dos grandes missionários que
o Cristo enviou. A salvação se dá através do lema: “Fora da Caridade não há
Salvação”.
Jesus é o responsável diante de Deus por encaminhar todos os seres do
orbe terreno para o Pai e mesmo aqueles que não o conhecem hoje, não deixarão
de reconhecê-lo amanhã, pois a evolução é inexorável! Por mais que o Espírito
evolua, ultrapassando até mesmo os limites da esfera terrestre, Deus como a
inteligência criadora infinita está continuamente no controle e assim, sempre
dependeremos daquele que É tudo em todos!
Jefferson Moura de
Lemos
[1] praticamente todos os povos antigos
sacrificavam animais e por vezes até humanos em algumas comunidades, essas
pessoas acreditavam que somente através de um sacrifício de sangue a um deus ou
deuses se poderia redimir-se de algum pecado ou adquirir algum favor, assim, a
sua mente estava condicionada a essa forma de troca.
[2] Apresentar-lhes um sacrifício único e
suficiente era a maneira mais eficiente de mostrar- lhes uma moral mais
elevada, algo que poderiam compreender e aceitar sem dificuldades intransponíveis
e ao mesmo tempo extirpava definitivamente da sociedade cristã o costume
sacrificial de animais e humanos. O apóstolo Paulo vai desenvolver toda uma
teologia em torno desse sacrifício.
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