No
meio cristão, duas teorias se destacam acerca da natureza humana: a Tricotomia,
que afirma existir no homem três elementos distintos, o corpo, a alma e o
espírito, e a Dicotomia que divide o homem em apenas duas partes: corpo e alma;
pois para esses a alma e o espírito são sinônimos.
Dessas duas linhas de pensamento, a dicotomia é a mais difundida dentro do
cristianismo, apesar da tricotomia também ser bastante popular em muitas
denominações protestantes. Essa predominância deve-se ao fato de que na Bíblia,
apesar dos vocábulos alma e espírito tomarem diversos significados, devido à
falta de clareza das línguas que foram utilizadas nas escrituras; existem
inúmeras passagens que apresentam a alma e o espírito como tendo as mesmas
características, e a mesma capacidade de estar separada do corpo físico numa
vida além-túmulo. Dentre esses muitos versículos vejamos alguns:
“Então
se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao SENHOR, e disse: Ó SENHOR
meu Deus, rogo-te que a
alma deste menino
torne a entrar nele*.” (1 Reis 17: 21) – “E, havendo aberto o
quinto selo, vi debaixo do altar as
almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por
amor do testemunho que deram”. (Apocalipse 6.9) – “E apedrejaram a Estevão que
em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe
o meu espírito”. (Atos 7: 59). [1]
No Espiritismo ensina-se a dicotomia como a forma básica da constituição
humana, embora, também exista um formato Tricotômico particular à doutrina,
para exprimir de maneira didática os elementos material e espiritual no homem.
Para entender a dicotomia e a tricotomia espírita é necessário compreender como
acontece a reencarnação em suas linhas gerais.
Durante o renascimento, o espírito liga-se ao novo corpo biológico que irá
utilizar através do seu corpo espiritual, chamado Perispírito;
estabelecendo uma perfeita junção espírito/matéria. Desse liame surge o famoso
cordão fluídico, característico do espírito encarnado e que somente é rompido
no momento da desencarnação; quando se desfaz a interação corpo/espírito pela
desagregação do elemento material, liberando o espírito para o retorno ao plano
espiritual.
Mas, enquanto está reencarnado o espírito
interage com o corpo e sente as influências do meio material, as necessidades e
desejos físicos como fome, frio, sexo, doenças etc. Pois as impressões já não
lhe chegam mais de maneira direta, como acontecia quando estava desencarnado,
agora submetido parcialmente às limitações dos órgãos, tudo o que vem do
exterior necessita da intermediação do corpo físico.
Todavia, a mente espiritual embora integrada ao cérebro, não está passiva,
influenciando o veículo físico, pois a sua real personalidade vai aos poucos
surgindo à medida que o corpo amadurece e o organismo possibilite uma liberdade
relativa da individualidade; as suas experiências passadas surgem na forma de
inclinações inatas. Havendo possibilidade de modificações comportamentais,
devido a diretrizes intelecto-morais novas, assimiladas durante a encarnação.
É justamente dessa interação corpo/espírito que resulta
a psique humana, a alma. A alma é um produto da reencarnação.
Em outras palavras, a alma é o próprio espírito sob a influência do ambiente
material.
Podemos então colocar isso didaticamente através do seguinte esquema:
Corpo
físico – alma – Espírito
Reencarnação
Dessa forma, o homem é um ser basicamente dicotômico constituído de um corpo
material e um espírito reencarnado (alma). Esse conceito está totalmente
concorde com o simbolismo Bíblico da criação do homem, quando Deus insuflou o
espírito no corpo inerte e esse se tornou alma vivente, isto é, consequência da
interação corpo/espírito. [2]
“A
alma é um espírito encarnado, do qual o corpo não é senão um envoltório”.
Allan
Kardec
No entanto, Allan Kardec não deixando de lado a dicotomia, mas, reconhecendo o
papel importantíssimo do perispírito no processo reencarnatório e objetivando
uma melhor compreensão do homem como um espírito reencarnado, cria uma nova
divisão tricotômica, decompondo o ser humano em Espírito, perispírito
e corpo físico.
“O
homem tem assim duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais,
dos quais tem o instinto; pela alma, participa da natureza dos Espíritos”. – “O
laço ou perispírito que une o corpo e o espírito é uma espécie de envoltório
semi-material. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro, o Espírito
conserva o segundo que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós
no estado normal, mas que pode, acidentalmente, tornar-se visível e mesmo
tangível, como ocorre nas aparições”. Allan
Kardec [3]
Percebemos, desse modo, que a concepção dicotômica da imortalidade da alma
apoia-se em diversas fontes de comprovação: nos textos Bíblicos, na revelação dos
Espíritos, nos experimentos de saída consciente fora do corpo (desdobramento);
nas experiências de quase morte (EQM), nas aparições de espíritos desencarnados
e materializações. São muitas as comprovações de que somos seres espirituais
habitando temporariamente um corpo físico.
Jefferson
Moura de Lemos
Referências:
* Os grifos são nossos.
[1] http://biblia.gospelmais.com.br
[2] Ver o nosso post: Adão e a reencarnação
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 182ª edição, abril/2009.
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