“Eu te darei as chaves do
reino dos céus: Tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus.” (Mateus 16:17)
Na passagem acima, Jesus delega um
poder extraordinário a Pedro, a capacidade de autorizar ou desautorizar a
entrada de uma pessoa nos céus. A Igreja Católica Apostólica Romana acredita
que os seus sacerdotes também herdaram esse poder, podendo excomungar ou
perdoar os pecados de um fiel. Mas será que a Igreja realmente herdou a faculdade
de “ligar e desligar” do apóstolo? Em que realmente consistia essa autoridade
apostólica?
Vamos analisar os versículos na íntegra, do inicio da conversação entre Jesus e seus discípulos até a parte que culmina na transferência de poder a Pedro:
Vamos analisar os versículos na íntegra, do inicio da conversação entre Jesus e seus discípulos até a parte que culmina na transferência de poder a Pedro:
“Chegando
ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “no
dizer do povo, quem é o Filho do homem?”- Responderam: “Uns dizem que é João
Batista; outros Elias; outros, Jeremias, ou um dos profetas.” – Disse-lhes
Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?”- Simão Pedro, respondeu: “Tu és o
Cristo, o Filho de Deus vivo!”– Jesus então lhe disse: “Feliz és, Simão filho
de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue quem te revelou isto. Mas meu Pai
que está nos céus. E eu te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei
a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; – Eu te
darei as chaves do reino dos céus: Tudo o que ligares na terra, será ligado nos
céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” – Depois
ordenou aos seus discípulos que dissessem a ninguém que ele era o Cristo”.
(Mateus 16:13 – 20) [1]
1
– Percebe-se claramente do texto que a pedra sobre a qual Jesus edificaria a
sua Igreja seria a revelação, isto é, a confissão inspirada por Deus feita por
Simão de que o Mestre Jesus é o Cristo. Já que a revelação foi recebida por
Simão, o Senhor troca-lhe o nome por Pedro ou pedra (Cefas em Grego) [2].
Assim, a rocha não é o homem mais a ideia transmitida por ele e o seu novo nome
é apenas o símbolo desse testemunho.
2
– Logo em seguida, Jesus transfere para Pedro a responsabilidade de vetar a
entrada nos céus daqueles que ele julgar não merecedores. Essa autoridade é
colocada exclusivamente nas mãos de Pedro não havendo alusão, em nenhuma parte,
acerca de uma transferência posterior. No Evangelho Segundo João essa concessão
é estendida também aos demais discípulos:
“Na
tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado
as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no
meio deles. Disse-lhes: “A paz esteja convosco!”- Dito isto, mostrou-lhes as
mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. – Disse-lhes, outra
vez: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a
vós.” – Depois destas palavras soprou sobre eles dizendo-lhes: “Recebei o
Espírito Santo. – Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;
àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.” (João 20:19-23)
A capacidade de perdoar e reter pecados
estendia-se igualmente a todos os companheiros de Pedro, ou seja, todos os
apóstolos detinham as “chaves do reino dos Céus”. O que nos faz supor que Pedro
não exercia uma primazia efetiva sobre os demais.
Isso é constatado por diversas
passagens onde Pedro realmente não exercia liderança ativa e Tiago muitas vezes
comandava os concílios. Pedro era até repreendido em alguns momentos e em suas
epístolas fez questão de igualar-se aos demais companheiros de ideal sem
demonstrar primazia ou erigir um trono para si [3]. Disso resulta que a Igreja
Católica Apostólica Romana, embora tenha o mérito de ter expandido o
Cristianismo nos séculos seguintes, preservado e organizado os Evangelhos e
ainda ter sido o ambiente de trabalho de vários espíritos elevados como o
pobrezinho de Assis e a Madre Tereza, não poderia alegar para si a posse desse
poder, já que a escritura sugere um ato pessoal e intransferível, que dizia
respeito apenas aos apóstolos.
Assim sendo, a Igreja utilizou-se erroneamente de um poder que verdadeiramente nunca teve, chegando até a privilegiar o Papa com uma infalibilidade ilegítima. Pedro e os demais discípulos eram os instrumentos para que a pedra fundamental (a revelação de que Jesus era o Cristo) pudesse se perpetuar através da comunhão fraternal entre eles e da divulgação da Boa Nova.
Assim sendo, a Igreja utilizou-se erroneamente de um poder que verdadeiramente nunca teve, chegando até a privilegiar o Papa com uma infalibilidade ilegítima. Pedro e os demais discípulos eram os instrumentos para que a pedra fundamental (a revelação de que Jesus era o Cristo) pudesse se perpetuar através da comunhão fraternal entre eles e da divulgação da Boa Nova.
3
– É preciso esclarecer ainda que essas chaves do Reino dos céus são puramente
simbólicas, Pedro e os seus companheiros não poderia decidir quem vai e quem
não vai para o céu a seu bel prazer, os apóstolos somente julgavam com certa
exatidão os erros alheios porque estavam assessorados diretamente pelo
Paráclito ou como é geralmente denominado de Espírito Santo e que para nós
espíritas, representa a comunidade de Espíritos Superiores que assistiram os
apóstolos naquele período. Isso dava a eles uma maior precisão ao discernir
acerca dos diversos conflitos de interesse, individuais e coletivos, que
possivelmente surgiam dentro da comunidade.
É o que se constata dessa outra passagem de Mateus em que Jesus se dirige aos seus discípulos:
É o que se constata dessa outra passagem de Mateus em que Jesus se dirige aos seus discípulos:
“Se
teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se
te ouvir, terás ganho teu irmão; Se não te escutar, toma contigo uma ou duas
pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três
testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o à igreja. E se recusa ouvir também a
igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo:
tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes
sobre a terra será também desligado no céu. (Mateus 18:15-18)
A Igreja a que se referem esses
versículos era a comunidade dos doze discípulos ou assembleia dos apóstolos e
não se refere às comunidades que se formariam posteriormente [4], o que fica
bem claro nos versículos 18:1e 21e ainda nos versos 19-20: “Digo-vos ainda
isto: se dois de vós (os discípulos) se unirem sobre a terra…”.
Assim sendo, a sentença de entrar ou
não no Reino dos Céus nada mais era do que admoestar e constatar aquilo que já
existia no coração dos indivíduos. Atitudes e sentimentos morais que
naturalmente não permitiriam o acesso aos planos espirituais elevados, pois os
mecanismos de afinidade são os mesmos, tanto no plano físico quanto no ambiente
espiritual, situando os indivíduos automaticamente em locais onde encontrarão
outras criaturas que se afinizam com o seu modo de ser.
Os próprios discípulos mesmo tendo
uma elevada assistência espiritual não eram invulneráveis aos erros, seguindo o
próprio coração em muitos momentos, dando margens a conflitos internos na
própria assembleia. Então, Seria muita imprevidência de Jesus, disseminar um
poder dessa magnitude às lideranças posteriores aos discípulos, conhecendo como
conhecia o coração humano. Sabendo que frequentemente os homens colocam os interesses
políticos e pessoais acima dos interesses reais do reino divino. A História nos
informa que essas passagens foram utilizadas pela Igreja por séculos para
oprimir e submeter os fiéis. Mesmo os reis tremiam diante do Papa e poucos
ousavam questionar o poder temporal da Igreja sob as ameaças de excomunhão.
Desse modo, a tradição das chaves e a sucessão apostólica se perpetuaram, inicialmente para combater os diversos movimentos cristãos contrários à teologia Católica e posteriormente, para servir puramente aos benefícios temporais da Igreja, em detrimento das preocupações genuinamente espirituais.
Desse modo, a tradição das chaves e a sucessão apostólica se perpetuaram, inicialmente para combater os diversos movimentos cristãos contrários à teologia Católica e posteriormente, para servir puramente aos benefícios temporais da Igreja, em detrimento das preocupações genuinamente espirituais.
Jefferson
Moura de Lemos
[1] Bíblia Sagrada, tradução dos
originais mediante a versão dos Monges de Maredsous (Bélgica) pelo Centro
Bíblico Católico. Editora “Ave Maria” 42ª edição.
[2] Cefas é a transliteração do aramaico Kepha.
[2] Cefas é a transliteração do aramaico Kepha.
[3] Atos 2: 42- 47; 8: 14; 11:1-2;
21:18; 1 Pedro 1:1; 5.1
[4]
Igreja ou Eclésia é uma palavra grega que significa originalmente assembleia,
reunião de pessoas e não se refere à Igreja Católica Apostólica Romana, pois
que essa instituição ainda não existia. É a transliteração do Hebraico “Qehal”
que quer dizer originalmente “chamados para fora” quando os hebreus do deserto
eram chamados por Moisés para fora de suas tendas a fim de se reunirem em
assembleia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja
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