“Bem-aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus, 5: 3)
A expressão “pobres de espírito” faz parte do sermão do monte no Novo
Testamento. Apesar de “O evangelho Segundo o Espiritismo” demonstrar o
verdadeiro sentido que Jesus deu a essa frase, muita gente que lê esses
escritos diretamente da Bíblia faz uma leitura pessoal e seletiva, segundo as
suas convicções, preconceitos e melindres.
Alguns indivíduos, que por fazerem parte de uma elite intelectual,
acreditam estar acima das pessoas comuns, se deixando envolver pela arrogância,
passando a considerar todos os que não adquiriram uma cultura tão elevada
quanto a sua como inferiores e ignorantes. Fazendo da passagem acima, uma
leitura equivocada, segundo o seu orgulho e vaidade.
Outros, por terem alcançado o alto da escala social, conseguindo poder e
riqueza, passam a relacionar os “pobres de espírito” àquela parcela da
população que não conseguiram ascender socialmente e por isso, não merecem um
tratamento social mais igualitário por viverem no espírito de pobreza. Desse
modo, ridicularizam a afirmação de Jesus de que o reino de Deus é somente para
elas, não compreendendo que o termo “pobre” ali não se refere ao que a sua
interpretação orgulhosa deduz.
Existem pessoas que também interpretam as palavras de Jesus no sentido
da pobreza material. Mas, ao contrario dos nossos irmãos abastados, estes são
realmente carentes de recursos e veem em sua pobreza, imposta pelos revezes da
vida ou voluntária, a consolação e a certeza de já estarem aptos ao reino dos
céus. Logicamente que aquele que sofre com paciência os dissabores de uma
encarnação de dificuldades financeiras tem o seu mérito, todavia, a pobreza em
si mesma ainda não é condição certa para adentrar aos planos espirituais elevados,
pois muitos pobres existem que são tão orgulhosos, invejosos e mesquinhos
quanto àqueles que utilizam a sua fortuna para esmagar o próximo.
O fanatismo religioso também impede que se tenha uma leitura correta do
Evangelho. Muitos religiosos convictos da sua salvação acreditam que se
encaixam como uma luva nessa passagem, apenas por executarem humildemente os
ritos, observarem os dogmas ou aceitarem as crenças da sua escola religiosa.
Colocando todos aqueles que não compartilham de suas ideias como
espiritualmente inferiores e automaticamente excluídos do reino de Deus.
Ainda há uma classe de irmãos que acreditam que ser pobre de espírito
seja sempre agradar aos outros se esquecendo de si mesmo, numa humildade
subserviente. Não se pode confundi-los com os bajuladores de plantão, mas, são
individualidades que necessitam de esclarecimento quanto aos limites que se
deve empregar quando se resolve ajudar o próximo. Pois, infelizmente, lobos
vestidos de cordeiro irão se aproveitar da boa vontade e desprendimento para
humilhar e escravizar, julgando tudo pedir que o seareiro desavisado estará
sempre pronto e disponível. Essas ocorrências não devem esfriar o desejo de
exercer a caridade, porém o seu exercício deve ser realizado com discernimento
e sabedoria.
Em todos esses casos há dissonância entre o que Jesus realmente queria
dizer e o que foi compreendido equivocadamente. A pobreza de espírito a que o
Mestre de Nazaré se referia é a humildade de coração, a simplicidade interior
sem subserviência. Essa virtude que aproxima o homem de seu criador, não
importando o seu nível social, a sua cultura, o seu grupo político ou
religioso.
Ser humilde segundo Jesus é não ser egoísta, arrogante, orgulhoso,
vaidoso em excesso ou todas as imperfeições que afastam o homem dos caminhos que
Deus propõe para sua vida.
Jefferson Moura de Lemos
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