No relato bíblico, a serpente induziu Adão e Eva a comerem o fruto da árvore do
bem e do mal, com a promessa de que eles não morreriam, contrariando o
vaticínio divino de que provar o fruto proibido era morte certa. Para os
adeptos do mortalismo, essas palavras da cobra são uma alusão à imortalidade da
alma, doutrina que eles não acreditam, pois, para esses irmãos a alma também
morre juntamente com o corpo; assim, a serpente teria criado uma falsa crença para
enganar os primeiros humanos.
Entretanto,
a Biologia e a História comprovam que a descrição do Gênesis é totalmente
mitológica e simbólica, não podendo ser tomada no seu sentido literal, pois os
personagens de Adão e Eva não existiram, não foram pessoas reais. Assim, a
única leitura que se pode fazer desse texto é num âmbito figurativo.
Desse
modo, a descrição feita pelo Gênesis em sua simbologia, presta-se a diversas
interpretações de acordo com a ideologia dos intérpretes. Por isso, mesmo não
considerando essa história como real, iremos demonstrar através de uma análise
literal do texto que podemos chegar a uma conclusão totalmente diferente do que
os mortalistas supõem, não havendo nas entrelinhas nenhuma referência à
doutrina da imortalidade da alma.
O
“primeiro casal” já vivia uma vida física fadada à morte, pois dependiam
inteiramente da árvore da vida para continuarem vivendo para sempre, ou seja, eram
imortais enquanto comecem dessa árvore (Gênesis 2:9;16), era uma
imortalidade física condicional como dizem os mortalistas. Mas, a serpente lhes
fez acreditar que se provassem da árvore do bem e do mal não seriam apenas
semelhantes a Deus, mas, totalmente iguais a Ele em conhecimento e sabedoria:
“Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e
sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gênesis 3:5).
Por
isso: “viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos
olhos, e árvore desejável para dar entendimento” (Gênesis 3:6). Só que
as coisas não foram bem assim e após a desobediência Deus expulsa o casal caído
para fora do jardim para que não tivessem acesso a árvore da vida e
continuassem vivendo para sempre. Adão e Eva não morreram de imediato, tendo
uma vida longeva em anos, somente não mais tinham acesso à fonte de sua
imortalidade física.
Desse
modo, verifica-se que a serpente não se referia à imortalidade da alma, mas,
induzia o ingênuo casal ao desejo de igualar-se ao seu criador, tornando-se
deuses e por consequência eternos: “Certamente não morrereis” (Gênesis 3:4).
Esse texto logicamente trata-se de uma alegoria, representando o castigo a toda
a pretensão humana de elevar-se ao nível de divindades, algo comum nos tempos
antigos e que era intolerável ao monoteísmo judaico.
Logo
se percebe os resquícios das mitologias politeístas mais antigas que serviram
de base para a adaptação monoteísta do Gênesis judaico. Porquanto, a essência
fundamental continuou intacta: os deuses detinham todo o conhecimento, mas,
alguém repassou a ciência divina para o homem deixando as divindades furiosas,
castigando a humanidade pelo seu atrevimento.
Essa
mesma essência encontramos na criação do homem na mitologia dos povos
mesopotâmicos, ver “Adapa”, uma das fontes principais do Gênesis, e “Prometeu”
na mitologia grega entre outras.
Desse
modo, o ensino mortalista de que a crença na imortalidade da alma teve início
no Éden com a serpente é simplesmente uma falácia infantil.
Jefferson Moura de Lemos
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