“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem, mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis.” (O Livro dos Espíritos, questão 1010)

sábado, 10 de fevereiro de 2018

A SERPENTE E A IMORTALIDADE DA ALMA



            
No relato bíblico, a serpente induziu Adão e Eva a comerem o fruto da árvore do bem e do mal, com a promessa de que eles não morreriam, contrariando o vaticínio divino de que provar o fruto proibido era morte certa. Para os adeptos do mortalismo, essas palavras da cobra são uma alusão à imortalidade da alma, doutrina que eles não acreditam, pois, para esses irmãos a alma também morre juntamente com o corpo; assim, a serpente teria criado uma falsa crença para enganar os primeiros humanos.

 
         Entretanto, a Biologia e a História comprovam que a descrição do Gênesis é totalmente mitológica e simbólica, não podendo ser tomada no seu sentido literal, pois os personagens de Adão e Eva não existiram, não foram pessoas reais. Assim, a única leitura que se pode fazer desse texto é num âmbito figurativo.
         Desse modo, a descrição feita pelo Gênesis em sua simbologia, presta-se a diversas interpretações de acordo com a ideologia dos intérpretes. Por isso, mesmo não considerando essa história como real, iremos demonstrar através de uma análise literal do texto que podemos chegar a uma conclusão totalmente diferente do que os mortalistas supõem, não havendo nas entrelinhas nenhuma referência à doutrina da imortalidade da alma.
         O “primeiro casal” já vivia uma vida física fadada à morte, pois dependiam inteiramente da árvore da vida para continuarem vivendo para sempre, ou seja, eram imortais enquanto comecem dessa árvore (Gênesis 2:9;16), era uma imortalidade física condicional como dizem os mortalistas. Mas, a serpente lhes fez acreditar que se provassem da árvore do bem e do mal não seriam apenas semelhantes a Deus, mas, totalmente iguais a Ele em conhecimento e sabedoria: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gênesis 3:5).
         Por isso: “viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento” (Gênesis 3:6). Só que as coisas não foram bem assim e após a desobediência Deus expulsa o casal caído para fora do jardim para que não tivessem acesso a árvore da vida e continuassem vivendo para sempre. Adão e Eva não morreram de imediato, tendo uma vida longeva em anos, somente não mais tinham acesso à fonte de sua imortalidade física.
        Desse modo, verifica-se que a serpente não se referia à imortalidade da alma, mas, induzia o ingênuo casal ao desejo de igualar-se ao seu criador, tornando-se deuses e por consequência eternos: “Certamente não morrereis” (Gênesis 3:4). Esse texto logicamente trata-se de uma alegoria, representando o castigo a toda a pretensão humana de elevar-se ao nível de divindades, algo comum nos tempos antigos e que era intolerável ao monoteísmo judaico.
         Logo se percebe os resquícios das mitologias politeístas mais antigas que serviram de base para a adaptação monoteísta do Gênesis judaico. Porquanto, a essência fundamental continuou intacta: os deuses detinham todo o conhecimento, mas, alguém repassou a ciência divina para o homem deixando as divindades furiosas, castigando a humanidade pelo seu atrevimento.
         Essa mesma essência encontramos na criação do homem na mitologia dos povos mesopotâmicos, ver “Adapa”, uma das fontes principais do Gênesis, e “Prometeu” na mitologia grega entre outras.
         Desse modo, o ensino mortalista de que a crença na imortalidade da alma teve início no Éden com a serpente é simplesmente uma falácia infantil.


Jefferson Moura de Lemos

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