Segundo
o cristianismo tradicional, os seus adeptos são os únicos credenciados para se
afirmarem filhos de Deus. Essa opinião é baseada em alguns textos, como por
exemplo, João 1:12 onde se lê: “Contudo,
aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se
tornarem filhos de Deus”.
Para
entender essa e outras passagens é necessário compreender o contexto e as
motivações dos discípulos de Jesus naquele momento.
Os
seguidores mais próximos de Jesus, sendo judeus, estavam impregnados pelas
mitologias de seu povo. Utilizando como ideia inicial de suas reflexões a queda
do primeiro casal e a consequência da sua desobediência: o pecado original.
Assim,
acreditavam que, sendo Adão filho de Deus (Lucas
3:38), pois foi criado diretamente das suas mãos, ao perder a filiação
divina por ocasião da queda, transmitiu para a sua descendência a condição de
criaturas em busca de reconciliação com o seu criador. Somente após se reconciliarem
com o Eterno é que o gênero humano poderia ascender novamente ao status de
filhos.
Até
mesmo os judeus que eram chamados de povo de Deus não detinham essa
prerrogativa, pois se consideravam filhos de Abraão (Lucas 3:8), igualando-se nesse sentido (de criaturas) aos gentios.
Jesus
era o elo que faltava para essa reconciliação. Se Adão condenou o ser humano a
carregar um pecado hereditário, Jesus resgataria essa falta pelo sacrifício da
própria vida (Romanos 5: 8-19).
Reconduzindo todos os que passassem a crer em seu sacrifício para a comunhão
filial com o Eterno. Já não serão apenas criaturas, mas legítimos filhos de
Deus.
Acontece
que as descobertas da ciência demonstram a inexistência dos personagens de Adão
e Eva comprovando a sua origem mitológica e simbólica. Invalidando por
consequência o resultado de sua queda.
Jesus
por sua vez, não poderia substituir essas ideias mitológicas sem prejuízo para
a sua missão. Portanto, teve que submeter-se às opiniões da época e trabalhar
com o material que dispunha, para que a sua mensagem pudesse ser assimilada e
disseminada, já que a doutrina da substituição sacrificial era algo aceito em
praticamente todas as culturas da região e também em outras localidades do
mundo. Desse modo, quando Jesus disse: “ide e pregai a toda criatura” (Marcos 16:15), apenas reproduzia um
conceito que poderia ser aceito sem dificuldades.
Infelizmente,
ainda hoje, para a maioria dos cristãos apegados à mitologia, todos os que não
se enquadram no seu modelo de cristianismo estão sob o peso do pecado e
apartados da filiação divina, sendo considerados apenas criaturas, deserdadas
assim do reino dos céus até retornarem à condição de filhos, aceitando o
holocausto de Cristo.
A
Doutrina Espírita seguindo de mãos dadas com os achados científicos, não vê
Adão e Eva como pessoas reais, mas, personagens alegóricos e o pecado original
por consequência não aconteceu. Por conseguinte, também não houve sacrifício de
substituição na cruz, quer dizer, Jesus não morreu para apagar o pecado
original nem nos substituiu nos pecados individuais. Logo, todos os seres
humanos são filhos de Deus e herdeiros dos Céus, isto é, todos têm condições de
chegar aos planos espirituais mais elevados, através da evolução e da
reencarnação.
São
as diferenças evolutivas que dividem os filhos de Deus entre aqueles que já
fazem a vontade do Pai, se conduzindo no caminho do bem e estando em maior
sintonia com Ele ou como disse Paulo: “são guiados pelo espírito de Deus” (Romanos 8:14). E os que por vontade
própria se afastam dessa sintonia, não realizando a reforma interior.
O
retorno ao caminho do correto agir através do arrependimento reforça os laços
com os Espíritos do Senhor, volvendo o homem ao equilíbrio de sintonia mental
com Deus, por meio da oração sincera e da caridade.
“Deus prefere os que o adoram do fundo do coração,
com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que pensam honrá-lo
através de cerimônias que não os tornam melhores para os seus semelhantes.”
“Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam.” O Livro dos Espíritos, questão 654.
“Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam.” O Livro dos Espíritos, questão 654.
Jefferson Moura de Lemos
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